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“Aroeira é bom e é remédio pra curar”

 

No Nativo, comunidade localizada em Barra Nova, no litoral de São Mateus, a colheita da Pimenta Rosa ou Aroeira, tem sido uma alternativa econômica para comunidades tradicionais pesqueiras e marisqueiras atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão. O município é referência na produção no Espírito Santo e também no Brasil. E para fortalecer as ações comunitárias de pequenos produtores locais foi realizada, entre os dias 23 e 25 de junho, a segunda edição do Festival da Pimenta Rosa. O Evento é uma iniciativa do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), da Associação de Produtores e Extrativistas de Aroeira do Espírito Santo (Nativa), da Prefeitura Municipal de São Mateus e da Secretaria da Agricultura, Aquicultura e Pesca do Espírito Santo. 

Para Reginaldo Castro, Diretor Presidente da Associação de Produtores e Extrativistas de Aroeira do Espírito Santo, o encontro é oportunidade de aprender sobre a cultura da aroeira. “Aqui nesse festival você chega leigo no assunto e sai inteirado, sai plantando aroeira e trabalhando com qualidade, porque a associação existe desde 2011 com intuito de juntar produtores, agregar valor no seu produto e trazer conhecimento para aqueles que não conhecem”. Afirmou.  
 
Isso porque o evento contou com palestras sobre cadeia produtiva da aroeira e da pimenta-rosa, debates, oficinas, visitas guiadas, degustação de produtos, pratos típicos e atividades lúdicas e culturais. 

Incentivo 
Desde 2008 o Incaper investe na área. Segundo Fabiana Ruas, Bióloga, Coordenadora de Recursos Naturais do Instituto, o trabalho na comunidade vai além dos laboratórios. “Nós iniciamos pesquisas, ações não só de pesquisa, mas também de assistência técnica e extensão rural, com essas comunidades, com essa população, tanto produtores rurais como extrativistas E começamos a estudar, pesquisar sobre a pimenta rosa, como se planta, qual é a adubação que utiliza, se é orgânica, outros tipos de adubação, quais produtos que podem ser utilizados, como conseguir um produto final, seja o fruto, a pimenta rosa, sejam produtos com valores agregados”. Disse. 
 
E hoje, o produto que tradicionalmente já era utilizado no dia a dia do povo, como medicamento e na culinária, é produzido e comercializado na forma de óleo essencial, de pomada, repelente, sabonete, e diversos outros produtos da área do cuidado e também surpreende dando aroma e sabor à queijos, pratos gastronômicos e até na cerveja. 

Assessoria Técnica dos Atingidos e Atingidas presente  

A assessoria técnica dos atingidos e atingidas esteve no evento para contribuir e fortalecer a reestruturação de cadeias produtivas, que tradicionalmente sempre foram desenvolvidas e hoje são alternativa socioeconômica para comunidades atingidas, uma vez que até hoje os danos persistem e não foram reparados pelas empresas responsáveis pelo desastre. Teve banquinha da Adai, com atendimento para tirar dúvidas, oferecer informações. Teve Tenda da Saúde, promovida pelas equipes de Saúde e Serviço Socioassistencial e Mobilização, e ciranda para atender às crianças que estiveram por lá. 
 
“A gente sabe que esse festival tem uma importância muito grande, porque ele busca evidenciar como a pimenta rosa virou uma fonte de renda, inclusive para aquelas comunidades atingidas que deixaram de exercer suas atividades diante do rompimento da barragem. Então a gente está contribuindo nessa tarefa de estar presente durante esses três dias. Um evento que tem várias programações, ações, entre elas cursos diversos, várias palestras.” Pontuou Janaína Mattos, assessora técnica da Adai. 

Dado que importam e motivam a luta 

Dentre as apresentações, destaque para a palestra “Indicadores Econômicos da Produção de Aroeira e Pimenta Rosa do Espírito Santo”, com a Doutora em Política Social Camilla dos Santos Nogueira, responsável por coordenar o  projeto de pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) “Desenvolvimento regional e alternativas de sustentabilidade econômica para comunidades tradicionais pesqueiras e marisqueiras atingidas pelo desastre do rompimento da barragem do Fundão-MG, empresa Samarco, no município de Mariana-MG: o caso da produção de aroeira na zona costeira de São Mateus”, aprovado no edital FAPES/CNPq 11/2019, do Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional, executado pelo Centro Universitário Norte do Espírito Santo (CEUNES) em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (IFES) São Mateus no projeto de pesquisa “Fortalecimento de ações comunitárias de pequenos produtores de Pimenta-Rosa no Distrito do Nativo em São Mateus – ES”. 

Desenvolvido para sistematizar as demandas econômicas das comunidades atingidas pelo desastre da empresa Samarco, e a construção de soluções para a geração de trabalho e renda, bem como a identificação dos elos da cadeia da aroeira/pimenta rosa em São Mateus, e os seus desafios e potencialidades, cumprindo com o objetivo geral do projeto.  

 
Das 150 famílias entrevistadas:  

• 97,3% atingidas pelo desastre da empresa Samarco; 

• 78% são pescadoras artesanal; 

• 74% têm a pesca como principal renda familiar; 

• 86% estão impedidas de pescar, devido à contaminação do mar e do rio; 

• 44,6% estão impedidas de catar caranguejo, devido à contaminação do mar e do rio; 

• 72% colhem pimenta rosa/aroeira; 

• 58% comercializam pimenta rosa in natura; 

• 59,3% afirmam que a produção de aroeira e pimenta rosa está sendo uma alternativa econômica depois do desastre da empresa Samarco. 

Está comprovada a importância da aroeira nas comunidades atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, tanto na perspectiva do cuidado e saúde popular e comunitária, quanto na regeneração da renda destas famílias. No entanto, é necessário ampliar os valores agregados à aroeira produzida e colhida nestas localidades, já que o maior volume da produção é comercializado como produto primário básico (commodities). Dada a importância desta planta nativa na regeneração da renda destas comunidades, investimentos via repactuação podem garantir uma reparação justa. 

 

Equipe de comunicação – Adai

Espírito Santo