Saúde é um direito do povo atingido
O Dia Mundial da Saúde, celebrado em 7 de abril, foi criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para destacar a importância da saúde e conscientizar as pessoas em todo o mundo.
A cada ano, a OMS escolhe um tema específico para este dia, visando abordar questões de saúde pública importantes e promover ações globais para melhorar a saúde da população mundial. Este ano, o tema é “Minha saúde, meu direito”, escolhido com o objetivo de enfrentar os desafios relacionados à defesa do direito de todas as pessoas, em todos os lugares, de terem acesso a serviços de saúde, educação e informação, bem como à água potável, ao ar puro, à alimentação saudável, à moradia de qualidade, a condições ambientais e de trabalho decentes, e a viverem livres de discriminação.
Saúde da população atingida
Entre os muitos problemas que surgiram com a chegada dos rejeitos após o rompimento da barragem de Fundão, em 2015, um tema comum e preocupante para todos os territórios atingidos pela lama é a saúde da população atingida. Nos últimos oito anos, essas pessoas perceberam a mudança no seu cotidiano e das comunidades que estão inseridas, com o aumento de doenças de pele, estomacais e mentais, além de diversos tipos de câncer. O agravante é que municípios atingidos ainda não possuem uma política específica para tratar essa população e o tema.
Um dos direitos mais negligenciados em todo o processo reparatório é o direito à saúde. Apesar de esse ser, segundo a Constituição brasileira, um direito fundamental e uma responsabilidade do Estado, até agora, quase nove anos após o rompimento da barragem, nada foi feito sobre esse tema. É importante destacar que o derramamento de 48,3 milhões de metros cúbicos de lama no Rio Doce em nenhum momento foi encarado como uma emergência sanitária. Não houve preparação das equipes municipais e estaduais para lidar com a situação, nem tampouco orientações e protocolos de atendimento e monitoramento por parte do Ministério da Saúde. As pessoas atingidas têm sofrido as consequências físicas e mentais da contaminação da água, do solo e do ar pelos rejeitos da mineração e não recebem atendimento adequado, voltado para as necessidades específicas da população atingida.
Muito pelo contrário, encontram o sistema de saúde superlotado, enfrentam dificuldades para a realização de consultas e exames, o acesso a especialidades médicas e equipes médicas despreparadas, sem formação, para atender as especificidades das pessoas atingidas. Fato que pode ser considerado grave, já que as pessoas atingidas são revitimizadas todas as vezes em que não conseguem atendimento ou são atendidas por funcionários que desconhecem e ignoram a realidade dessa população.
A seguir, atingidas e atingidos dos territórios de atuação da Adai no Espírito Santo relatam os acontecimentos em relação à saúde após a chegada da lama de rejeitos da barragem de Fundão.
A falta de qualquer ação vinculada à temática da saúde deve-se, em grande medida, ao posicionamento da Fundação Renova, que tem se negado a reconhecer a relação entre contaminação e danos à saúde e se recusado a liberar os recursos para serem investidos na área, impedindo a implementação dos Planos de Ação em Saúde já aprovados no sistema de governança da reparação. Entretanto, é impossível desresponsabilizar o poder público em suas três esferas federativas. Afinal, a obrigação legal da garantia do direito à Saúde cabe também ao Estado brasileiro.