Água de beber: fonte de vida, sede de luta
Dentre os muitos problemas que surgiram com a chegada dos rejeitos após o rompimento da barragem de Fundão, em 2015, um tema que é comum e preocupa as comunidades de todos os territórios atingidos pela lama, é a qualidade da água.
Os problemas relacionados ao abastecimento e consumo são muitos e estão presentes em todos os territórios assessorados pela Adai, desde Baixo Guandu e Colatina onde são mais latentes, por captarem a água diretamente do Rio Doce para consumo humano.
Colatina e Baixo Guandu
Desde 2015, os moradores dos municípios de Colatina e Baixo Guandu lidam diariamente com problemas relacionados à água que chega em suas casas com coloração alaranjada ou esbranquiçada, sabor e cheiro de lama.
Eles enfrentam o aumento de casos de doenças estomacais e de pele, as quais alegam estar relacionadas ao consumo da água é observado o aumento de casos de doenças relacionadas ao consumo e ao contato com a água do Rio Doce. Esse tema foi apresentado na primeira edição do jornal Do Rio ao Mar.
A questão que tira o sono do povo é:
“A água disponível para consumo é segura?”
“Será que é? Dá pra beber essa água com tranquilidade?”
Diante das muitas queixas da comunidade, que até hoje não tem participação efetiva nos espaços de negociação e não recebe informações acessíveis e transparentes sobre a água por parte da Fundação Renova, uma decisão apontou mudanças no processo de levantamento dos danos pela empresa de perícia AECOM, que vai propor um Plano de Trabalho Local para o abastecimento e tratamento da água.
Os primeiros municípios a receberem os projetos piloto são Colatina, no Espírito Santo e Governador Valadares, em Minas Gerais. Apesar destes avanços, a decisão não abre espaço para uma participação ativa da população atingida nas fases do Plano de Trabalho, e isso mostra que ainda há muito o que avançar no processo de participação popular.
Como é feita a captação de água para abastecimento público das cidades que consomem água do Rio Doce:
- Colatina
O sistema de abastecimento de água de Colatina é gerido pelo Serviço Colatinense de Saneamento Ambiental (SANEAR), uma autarquia da Prefeitura.
São cinco estações de tratamento de água, todas com captação principal no Rio Doce.
O processo de abastecimento e tratamento da água em Colatina não está em conformidade com os padrões. Em uma audiência recente foi definido que até novembro de 2024 as adequações devam ser concluídas.
A população atingida de Colatina protocolou, por meio da Assessoria Técnica, pedidos para participação no processo decisório sobre tratamento e abastecimento de água na cidade.
- Baixo Guandu
O sistema de abastecimento de água de Baixo Guandu é operado pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), uma autarquia da prefeitura.
São duas estações de tratamento de água, todas com captação principal no Rio Doce.
Após a chegada da lama, o Rio Guandu, localizado em zona urbana, foi utilizado como fonte emergencial de abastecimento, no período entre 16 de novembro de 2015 e março de 2019.
No novo projeto de captação de água para abastecimento do município, a Fundação Renova propôs à prefeitura de Baixo Guandu e ao SAAE que a captação de água fosse feita no Rio Guandu.
Para a comunidade de Mascarenhas, estão em discussão três locais alternativos para a captação de água, além do Rio Doce.
O SAAE tem defendido a construção de uma adutora para levar água tratada da estação localizada na sede de Baixo Guandu até o reservatório da estação de Mascarenhas, utilizando o Rio Guandu como fonte de captação alternativa.
A Fundação Renova defende a captação de água subterrânea no distrito de Mascarenhas, por meio de um poço, e a instalação de estruturas para um tratamento avançado que remova os metais da água.
Preocupação
Existe uma preocupação da população Guaduense quanto à área de construção do novo sistema de captação de água, que está dentro da zona urbana, onde há despejo de esgoto doméstico, e também existe a preocupações sobre a possível contaminação do rio Guandu por agrotóxicos.
Dois diagnósticos ambientais foram elaborados, um em 2015 pela empresa Esse Engenharia e Consultoria e outro em 2017 pelas empresas NHC e Rhama. Ambos indicaram a necessidade de construir a captação de água fora da área urbana para minimizar o risco de contaminação da água devido ao lançamento de esgoto doméstico.