08 anos da chegada da lama da Samarco/Vale/BHP no Espírito Santo
“O Rio Doce, outrora símbolo de vida, foi contaminado, deixando um rastro de destruição e impactos duradouros”
O rio que era Doce agora amarga com sabor dos metais pesados da mineração, que continuam contaminando suas águas, seus afluentes e o mar. Um amargo que destrói o meio ambiente, as vidas humanas e os animais.
Segundo o Serviço Geológico do Brasil, os rejeitos vindos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, chegaram em Baixo Guandu, município do ES, num final de tarde, por volta das 17 horas do dia 16 de novembro de 2015. No dia 18, a lama encorpada já tinha tomado conta de tudo, era possível ver os peixes que boiavam sobre a superfície do Rio Doce. A primeira cidade capixaba a ser atingida pela lama recebeu os rejeitos onze dias depois do rompimento, ocorrido no dia 05 de novembro. Nesse dia, a captação de água para a população parou, assim como a vida de muita gente que dependia do rio, também parou. A lama seguiu o fluxo do rio e desaguou no mar capixaba em 22 de novembro de 2015.
“O Rio Doce, outrora símbolo de vida, foi contaminado, deixando um rastro de destruição e impactos duradouros”
O rio que era Doce agora amarga com sabor dos metais pesados da mineração, que continuam contaminando suas águas, seus afluentes e o mar. Um amargo que destrói o meio ambiente, as vidas humanas e os animais.
Segundo o Serviço Geológico do Brasil, os rejeitos vindos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, chegaram em Baixo Guandu, município do ES, num final de tarde, por volta das 17 horas do dia 16 de novembro de 2015. No dia 18, a lama encorpada já tinha tomado conta de tudo, era possível ver os peixes que boiavam sobre a superfície do Rio Doce. A primeira cidade capixaba a ser atingida pela lama recebeu os rejeitos onze dias depois do rompimento, ocorrido no dia 05 de novembro. Nesse dia, a captação de água para a população parou, assim como a vida de muita gente que dependia do rio, também parou. A lama seguiu o fluxo do rio e desaguou no mar capixaba em 22 de novembro de 2015.
No marco dessa data, lembramos que o maior desastre sociotecnológico do Brasil, causou e causa até hoje inúmeros danos, em especial ambiental e na saúde das populações atingidas, e um rastro de destruição permanente em diversos municípios e territórios que dependiam do Rio Doce para sobreviver, para viver.
Reparação justa é um direito. “Do rio ao mar: reparação, já”!
A triste lembrança e a esperança em uma reparação justa e no Rio Doce vivo de novo
Regiane Soares que é mulher negra, militante do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) e moradora de Baixo Guandu, relembrou que no dia em que a lama chegou tudo era desconhecido. “A gente nem sabia que existia esse risco de contaminação e morte do Rio Doce por causa dos rejeitos dessa lama[…], mas a pior dor nesse momento foi quando vimos os peixes pulando para fora da água, morrendo sem poder viver no que era para ser se habitat natural. Nesse momento fomos entendendo, a ficha parece que foi caindo, como iríamos viver do Rio se ele estava morto?”. Ela ainda comentou sobre o quanto isso atingiu a vida de tanta gente. Testemunhar o Rio Doce amargando ao longo desses anos alimenta um sentimento de muita tristeza. “É muito triste lembrar, nossas vidas mudaram totalmente, o lugar de onde sempre tiramos nosso sustento, agora nos adoece, tivemos nossa saúde afetada. É muito triste! Já são 8 anos e tão pouco foi feito pela nossa gente e pelo nosso Doce Rio. E dentre tantos os motivos que nos colocam a lutar é a esperança de uma reparação justa”. Disse em meio às lágrimas que já não pôde conter.
A partir da chegada da lama, como colocou Regiane, a vida das pessoas e da própria natureza mudou. Já são 8 anos e a água continua impropria para uso da população e para o próprio ambiente natural.
Para Raquel Lopes Rosa, pescadora atingida de Mascarenhas, mesmo com todo sofrimento, sair dali, do lugar que é a sua casa, não é uma opção. A esperança na luta e sonho com uma reparação é o que a mantém de pé. “Hoje tá muito difícil, mas eu já tenho 42 anos, nasci e me criei com o sustento do Rio, minha família toda é pescadora. O que nos mantém resistentes é a esperança numa reparação justa e sonhar mesmo com o Rio Doce vivo e com peixe de novo”. Concluiu.
O rompimento da barragem de Fundão despejou, aproximadamente 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração no Rio Doce. Com o objetivo de analisar os impactos causados à saúde da população, o Ministério Público Federal determinou a contratação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que então desenvolveu estudos epidemiológicos no período de 2012 a 2019 sobre as mudanças que sofreu a qualidade da água e seus impactos para a saúde da população atingida.
Este estudo fez um levantamento com base nos seguintes bancos de dados:
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Sistema de Informação Ambulatorial (SIA)
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Sistema de Informação Hospitalar (SIH)
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Sistema de Informação de Mortalidade (SIM)
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Sistema de Notificação Compulsória (SINAN).
Foi apontado uma piora na saúde da população desde o rompimento da barragem. Houve um aumento significativo no total de atendimentos ambulatoriais nos municípios atingidos.
É importante destacar que o citado estudo indica que pode ocorrer o agravamento das patologias acima mencionadas, mesmo depois de quase oito anos, porque, no caso dos metais pesados que não são assimilados pelo organismo, o material se acumula no corpo, levando a uma intoxicação crônica. Isto nos leva a perceber que os impactos relacionados ao contato com metais pesados não são somente de curto prazo. Ou seja, como o organismo acumula esse material, existem doenças que só irão se manifestar depois de muito tempo.
Embora existam evidências da sedimentação e do acúmulo da lama no fundo dos rios e nas margens do mar de todo litoral capixaba, estes materiais podem voltar à superfície, como acontece em períodos de chuva, produzindo águas de alta turbidez, associadas a contaminantes metálicos que podem persistir por longos períodos de tempo.
A Luta, o Sonho, o Povo e a Esperança de uma Reparação Justa
Diante de todo cenário de tristeza e destruição, a luta organizada e esperança por reparação justa mantém o povo atingido firme.
Exemplo disso é a mobilização organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), pela aprovação da Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB), no Projeto de Lei PL 2788/2019, aprovado pelo Senado Federal em 14 de novembro e encaminhada para sanção do presidente Luiz Inacio Lula da Silva, que se comprometeu fazer com a urgência que a pauta necessita.
A PNAB é uma grande vitória da luta de atingidos e atingidas de todo o Brasil, uma luta que parece que depois de anos de resistência impulsiona e encoraja ainda mais o povo, que se inspiram na certeza de dias melhores.
A Jornada de lutas, organizada pelo MAB, contou com um cronograma de ação com atos realizados em setembro e outubro entre Minas gerais e Espírito Santo e teve como ponto ápice a participação do povo em Brasília, entre os dias 04 e 07 de novembro, que contou com a participação de cerca de 2.600 atingidos e atingidas de todo o país. Sobre os primeiros passos positivos acerca dos pareceres favoráveis à PNAB durante a jornada, Robson Formiga afirmou: “Essa é uma conquista muito importante, histórica, da luta dos atingidos”. Robson é parte da coordenação nacional do MAB.
Que sonhos sejam partilhados e fortaleçam a luta e que os direitos dos atingidos e atingidas sejam efetivados. Enquanto Assessoria Técnica dos Atingidos e Atingidas da Adai, reafirmamos: Para o povo, nenhum direito a menos!
Texto e arte: Equipe de Comunicação da ATI – Adai no ES