O projeto “Promoção da Soberania Alimentar em regiões atingidas por barragens através da tecnologia social PAIS e placa solar de aquecimento de água” desenvolvido desde 2016 na região da UHE de Salto Santiago, especificamente nos municípios de Candói, Rio Bonito do Iguaçu e Porto Barreiro tem proporcionado grandes benefícios para as 70 famílias envolvidas diretamente nas ações do projeto.

Segundo Helena e Roque Gandin, família agricultora do município de Porto Barreiro, o projeto PAIS possibilitou utilizar melhor o espaço e aproveitar a matéria orgânica do esterco das galinhas e também das verduras que não serão utilizadas para a alimentação. No espaço plantam-se diversas verduras, legumes, flores e chás, formando um sistema integrado e saudável. Destacam também que o formato redondo da horta é uma grande vantagem, pois facilita o plantio, o manejo, a colheita e também a irrigação.

A maioria das famílias agricultoras que fazem parte do projeto destaca que o desenvolvimento dos trabalhos tem possibilitado repensar a forma de produzir, principalmente sem o uso de agrotóxicos.  Um espaço que antes estava sem utilização ou era cultivado com produtos químicos, hoje é um ambiente de produção orgânica diversificada, que além de contribuir com a saúde, traz economias para as famílias.

Já o Aquecedor Solar de Baixo Custo – ASBC também vem trazendo significativos benefícios às famílias, além de ser uma novidade, a tecnologia tem proporcionado uma redução expressiva na tarifa da energia elétrica. 

Além dos benefícios diretos que as tecnologias sociais têm proporcionado às famílias, o projeto também tem sido foco de várias pesquisas acadêmicas. Em abril de 2017, o companheiro João Costa de Oliveira defendeu sua dissertação titulada “Hidrelétricas, Território e desenvolvimento: Uma análise do território Cantuquiriguaçu, na perspectiva da sustentabilidade” ao programa de Pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável – PPGADR da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS para a obtenção do titulo de mestre.

Já em setembro de 2017 a companheira Doriane Bortoluzzi apresentou o trabalho de conclusão de curso de especialização em Educação do Campo da Universidade Federal da Fronteira Sul titulado “Quando a água inunda a vida: o desafio da permanência no campo, dos ribeirinhos atingidos pela barragem da usina de Salto Santiago – um estudo da Linha Gonçalves, Porto Barreiro, Paraná”.

E em dezembro de 2017, a companheira Jucineide do Nascimento Oliveira apresentou o trabalho titulado “Avaliação da Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS) no município de Rio Bonito do Iguaçu/ PR” à Faculdade Centro Oeste do Paraná – FACEOPAR, como parte dos requisitos para obtenção de grau de Bacharel em Tecnologia em Gestão Ambiental.

Os três trabalhos realizam uma abordagem sobre o desenvolvimento do projeto na região, evidenciando principalmente de forma positiva os resultados na vida das famílias agricultoras. Dentre os principais elementos apontados estão, a qualidade de vida, a redução dos gastos, produção e consumo de alimentos saudáveis, igualdade de gênero, o fortalecimento de laços familiares e de amizades com o trabalho comunitário realizado, valorização de culturas, desenvolvimento das propriedades e estimulo para permanecerem no campo, principalmente para os jovens.

A presença da organização dos atingidos nesta região já é marcada por uma longa e importante história, desde 1970 na construção UHE Salto Santiago e também pelos ribeirinhos da UHE de Itaipú.

A situação dos atingidos pela barragem Salto Santiago ainda não foi resolvida e já se passaram mais de 30 anos. Continuam padecendo a herança militar que deixou muitas famílias na pobreza ou convivendo na periferia das cidades circunvizinhas. O descaso com as famílias atingidas é uma luta que ainda está em vigor. Somente a organização e a participação coletiva dos atingidos durante todo o processo, é fundamental para alcançar objetivos concretos.