Povos e Comunidades Tradicionais, Quilombolas, Indígenas, Ribeirinhas e Costeiras

A Assessoria Técnica dos Atingidos e Atingidas – Adai conta com diversas equipes e áreas temáticas para atuação nos territórios assessorados no Espírito Santo. Uma delas é a de Povos e Comunidades Tradicionais (PCT), que contempla a diversidade e as diferenças étnicas e culturais no processo de reparação integral e da atuação da ATI. 

Cada comunidade possui seus métodos próprios de mediação e resolução de conflitos, que podem ser baseados na oralidade ou estruturados em Regimentos Internos. É fundamental que os danos, demandas e especificidades sejam territorializadas para cada comunidade tradicional. Com isso a equipe tem como objetivo apoiá-las, para que possam participar de maneira livre e informada, pelo menos na mesma medida que outros setores da população, e em todos os níveis do processo reparatório, e fortalecer as manifestações culturais existentes nas comunidades tradicionais. Nesse processo, a educação popular é ferramenta utilizada para escuta atenta e troca de saberes. 

No dia 07 de fevereiro de 2024, a equipe de Povos Comunidades Tradicionais, realizou uma formação técnica interna para toda a equipe da Assessoria Técnica Independente. Realizada de forma virtual, a formação contou com participação de atingidos convidados, que deram seus depoimentos para que as técnicas e técnicos entendam sobre territórios tradicionais.

Cláudia Monteiro, da Comunidade Ribeirinha Barra Nova Sul, em São Mateus relatou: “Nós aqui vivemos da pesca, somos povos tradicionais ribeirinhos. Desde a época do meu avô já se considerava indígena, sempre nos consideramos da pesca, é o que sempre soubemos fazer e em alguns anos a gente vem passando por mudanças na nossa comunidade, e essa é a nossa preocupação. Nunca saímos da nossa comunidade para outro lugar fazer outra coisa. Sempre fizemos a pesca, a cata do siri, do caranguejo e dos mariscos. Continuamos resistindo desses impacto todo que sofremos, e vamos resistir, porque é o que nós somos, é o que a gente sabe fazer e é o que a gente quer permanecer fazendo.” 

Josielson Gomes dos Santos, da Comunidade Quilombola Morro da Onça, em Conceição da Barra comentou que: “A grande riqueza nossa é o nosso modo de vida. Poder pescar nosso peixe, catar nosso caranguejo, plantar nossas roças, colher nossa comida. Mas infelizmente com todos esses empreendimentos que foram instalados tanto aqui no Sapê do Norte como a mineração em Mariana tiraram esse pouco de sobrevivência que as comunidades quilombolas tinham. Isso é muito preocupante. Estamos na luta pela titulação do nosso território para que nossa comunidade possa ter sua terra para sobreviver. E por isso somos ameaçados o tempo todo pela empresa Suzano, e pelas demais empresas que querem se instalar, tanto a Petrobras, quanto o sal-gema. Os poderosos gananciosos, que só pensam no dinheiro e no capital, vão destruir nossos territórios e vão tirar a esperança de muitas famílias que estão aqui e tem o sonho de ver seus filhos, seus netos, seus tataranetos vivendo felizes nesse território nosso.”

Formação

As outras equipes do projeto tiveram oportunidade de compreender a conjuntura social, histórica, política e demográfica da região e dos povos tradicionais ribeirinhos que habitam estes territórios de forma ancestral. Levando em conta o respeito, a autonomia e a resistência desses povos e comunidades, além do cuidado para se evitar práticas de revitimização, considerando as experiências de violência, racismo e apagamento de suas trajetórias ao longo da história da região.