01 de maio - Adai ES


Atingidos e atingidas do Espírito Santo têm fontes de renda afetadas em razão da contaminação de rejeitos de mineração no Rio Doce 

A urbanização tem sido um fenômeno bastante recente no Espírito Santo. As pesquisas indicam que, por volta de 1960, aproximadamente 70% da população residente no ES vivia na roça, cuja produção se encontrava especializada no café e em culturas de subsistência. A expulsão de boa parte das famílias do campo, para a Grande Vitória e para os núcleos urbanos do interior, foi bastante impulsionada pela política federal de erradicação dos cafezais. Nesse fenômeno, muitas das referências da cultura dos povos tradicionais e de parcela significativa de descendentes das famílias imigrantes vindas de outros países, foram se adaptando às raízes regionais, se integrando ao trabalho na terra, muitas delas dedicadas ao uso responsável do patrimônio natural de um território abundante em água. Ao longo do tempo, com o processo de produção industrial predatória, ocorre a destruição dos sonhos de construção de um espaço regional saudável, com respeito à natureza e socialmente menos desigual. 

Pensar sobre isso, neste 1º de maio, Dia Internacional do Trabalhador e da Trabalhadora, reflete sobre os mais de 7 anos que marcam o rompimento da Barragem de Fundão e da destruição de vidas desde Mariana-MG. Pensar sobre um conjunto de novos desastres, que se multiplicam como consequência daquele que até hoje, continua causando danos na vida das famílias atingidas. Esse é um dos motivos pelo qual é considerado um dos maiores desastres ecológico, tecnológico social e cultural (sociotecnológico) da contemporaneidade. 

De acordo com Fabrício Caldeira Alves, o Fafá, pescador de Itaúnas, em Conceição da Barra, litoral Norte capixaba, a atividade pesqueira foi impactada pela contaminação das águas no território. “Antigamente você pegava sua mercadoria, vendia com segurança e todo mundo procurava. Hoje, nossos pescados estão ficando no freezer. Nosso trabalho está sendo impactado, não conseguimos vender a nossa mercadoria, pois muita gente está preocupada se o peixe está contaminado ou não.” 

O cotidiano das famílias atingidas foi afetado pela ganância e irresponsabilidade dos operadores das grandes corporações da mineração, que causaram destruição socioambiental, ao longo do Vale do Rio Doce, nas terras da vizinhança e no litoral atlântico que se estende para além das águas territoriais capixabas. O comportamento de algumas autoridades governamentais e parlamentares que, ao contrário de buscar caminhos institucionais mais eficazes de responsabilização das empresas sentenciadas, procuram a todo custo provar que o desastre teria sido uma fatalidade e que as águas já estão apropriadas para o uso nas atividades agropecuárias e para o consumo humano. 

Para Fafá, a falta de informação causa incertezas sobre o presente e futuro do trabalho na região: “Queremos saber qual o grau de contaminação desses peixes no nosso território. Depois da lama teve o impacto, mas a gente não sabe dos laudos, o que está acontecendo no nosso território. Estamos esperando uma resposta das autoridades, dos órgãos competentes, que venham falar com a gente sobre o grau de contaminação do nosso pescado.”, frisa. 

O desastre retirou os meios de vida das famílias que tiravam seu sustento do rio e das águas marinhas poluídas por metais pesados e por uma variedade de outros metais cancerígenos.  Retirou dos povos e comunidades tradicionais espaços de cultura e ancestralidade.  Retirou da juventude, crianças e mulheres espaços de lazeres e produção solidária. Retirou e silenciou vozes que não serão mais uma vez caladas.  

Se não houve cuidado em prevenir, que agora sejam constituídas as condições objetivas de reconstrução das oportunidades de trabalho e de sustentação econômica das famílias que estão, até agora, socialmente desprotegidas, deixadas à sorte das escolhas gananciosas grandes empresas e mineradoras. 

Nós da Adai, que somos assessoria dos atingidas e atingidas no ES, reafirmamos que nosso compromisso é para com o povo. Trabalhar, viver, sonhar e ter esperança é um direito das pessoas atingidas. Ter dignidade para isso é um dever das empresas responsáveis pelos danos. Por uma reparação justa e integral para as pessoas atingidas por barragens. 

Texto: Área temática de Economia, Trabalho e Renda, ATI da Adai no Espírito Santo 

Arte e revisão: Coletivo de comunicação, ATI da Adai no Espírito Santo.