Geração de renda e viver com dignidade é direito da população atingida por barragens 

O Dia do Trabalho, ou Dia do Trabalhador e da Trabalhadora, é uma data celebrada internacionalmente. Representa a histórica luta da classe trabalhadora por melhores condições de trabalho, como a carga horária e remuneração. É um dia de organização popular que relembra o movimento grevista liderado por trabalhadores na cidade de Chicago, nos Estados Unidos da América, no final do século XIX. No Brasil, a data foi oficialmente incluída no calendário de feriados por lei em 2002. 

Refletir sobre o direito a políticas de geração de renda e à garantia de viver com dignidade neste 1º de maio é considerar os mais de 8 anos desde o rompimento da Barragem de Fundão e a devastação em Mariana – MG e em todo percurso do Rio Doce até o mar.  

Danos econômicos e prejuízos nas atividades econômicas da Bacia do Rio Doce e Litoral Capixaba 

Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de 2021, entre 2015 e 2018, as perdas para as áreas atingidas em função do rompimento estavam estimadas entre R$ 225 e R$ 267 bilhões no PIB dos Estados do Espírito Santo e Minas Gerais somados.   

De acordo com estudo da Ramboll, de 2019, a renda média das famílias atingidas caiu de R$ 1.128,95 para R$ 588,83 após o desastre.  

A taxa de desemprego aumentou consideravelmente, o que se relaciona com a redução da renda. Em 2019, a FGV indicou que mais de 60% dos desempregados na população em idade ativa atribuíram sua condição de desemprego ao rompimento da barragem. 

Terezinha dos Santos, moradora da comunidade quilombola Córrego do Alexandre, em Conceição da Barra, relata os impactos em sua vida: “Sou pescadora e filha de pescadora. Meus filhos hoje não sabem o que é pescar. Quando fui à feira, vender maxixe, produtos da terra, tudo voltou. Nunca precisei trabalhar fora, mas hoje tenho que passar por humilhações ao trabalhar para os outros. E dói saber que a Samarco não quer saber da gente”, lamenta. 

Raoni Mourão, professor de capoeira e comerciante, aponta os impactos econômicos na Vila de Itaúnas, em Conceição da Barra: “Nossa comunidade vive de comércio e turismo sazonal. A falta de informação nos deixa refém da incerteza quanto à contaminação, pois é do mar e do rio que vêm as fontes de renda. Todo o comércio local passou a importar os produtos, elevando os custos”, concluiu. 

Reconstrução das vidas e busca por justiça e reparação 

Neste contexto, torna-se ainda mais urgente a implementação de políticas públicas eficazes para garantir a segurança das comunidades afetadas e a responsabilização das empresas envolvidas. É fundamental que sejam adotadas medidas preventivas e de mitigação para evitar que tragédias como essa se repitam no futuro. 

A Adai, enquanto Assessoria Técnica Independente (ATI) a serviço dos povos atingidos da Bacia do Rio Doce e Litoral Capixaba atuante nos territórios de: Baixo Guandu, Colatina e Marilândia, Linhares, Povoação, Regência e Macrorregião Litoral Norte (Conceição da Barra e São Mateus), reforça a pauta da justiça social se faz com o olhar para as realidades e garantindo economia, trabalho e renda ao povo atingido. Uma reparação digna só é possível com a participação do povo que vive e luta cotidianamente pela preservação do meio ambiente, cultura, patrimônio e economia. Pois viver com dignidade é também ter a oportunidade de retomada da economia do trabalho e da renda.